sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

CMA

Circus Mundus Absurdus 



Circus Mundus Absurdus é uma trupe de cinco freaks finlandesa da natureza, cada vez trilhando caminho para fora da trilha batida do mundo surreal de noir cirque ... O tipo engraçado.

 


Terrivelmente engraçada.


 

A essência da mostra CMA é a tragicomédia de um chefão da megalomaníaco, Doctor K, lutando pelo controle de seus super-sideshow estranhos, onde quase tudo pode acontecer.



Suspensão Corporal & Meditação


A Suspensão Corporal teve origem há milhares de anos, em diferentes tipos de culturas. Vários povos utilizavam-na (e ainda utilizam) como pretexto de religiosidade, cultos espirituais, fetiche ou apenas pela adrenalina produzida. A suspensão corporal (suspension) é o ato de ser suspenso ao ar com ganchos enfiados na pele. Esse é um tipo de body mods atraente e emocionante, e pode trazer uma adrenalina incrível aos assistentes. Os adeptos da suspensão corporal a usam para meditação que pode conduzir a um nível mais elevado de consciência espiritual. Um dos objetivos é justamente ativar um nível de não-pensamento lingüístico .


Equipamentos

São usados ganchos de carne, ganchos usados em pesca , para pendurar tubarões por exemplo , e carnes em frigorificos e açougues Os ganchos são inseridos com ajuda de agulhas para perfuração.



Alguns tipos de suspensão: Caixa, Coma , Joelho, Suicide, Crucifix, superman

 

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A História da Tatuagem

A História da Tatuagem
Por Amana Rodrigues


O conceito de origem independente se adequa a tatuagem, pois ela foi inventada várias vezes, em diferentes momentos e partes da Terra, em todos os continentes, com maior ou menor variação de propósitos, técnicas e resultados. Charles Darvin, quando escreveu o livro "A Descendência do Homem" em 1871, afirmava que do Pólo Norte à Nova Zelândia não havia aborígine que não se tatuasse. Para entender o conceito de multinascimento, alguns críticos supõem que a tatuagem estava na bagagem das grandes migrações dos grupos humanos e por isso passou de um povo para o outro.



Através da arte pré-histórica podemos encontrar vestígios da existência de povos que cobriam o corpo com desenhos. Em vários exemplares de arte rupestre, foram encontrados desenho de formas humanas com pinturas em seus corpos, assim como estatuetas com esses mesmos desenhos corporais indicando a possibilidade da existência da tatuagem nesses povos. Há uma hipótese de que, nos primórdios, marcas involuntárias adquiridas em guerras, lutas corporais e caças geravam orgulho e reconhecimento ao homem que as possuísse, pois eram expressões naturais de força e vitória.

O homem, então, partindo da idéia de que marcas na pele seriam sinônimos de diferenciação e status, passou a marcar-se voluntariamente, fazendo ele mesmo seus ferimentos pelo corpo, que com o passar do tempo deu espaço para a criação de desenhos utilizando-se de tintas vegetais e espinhos para introduzi-las à pele. A partir daí, diversos povos, de diversas culturas começaram a usar pinturas definitivas por motivos espirituais, em rituais de várias espécies e fins, para a guerra, para marcar os fatos da vida biológica: nascimento, puberdade, reprodução e morte entre outros. No entanto, foi com a descoberta das múmias que ficou provado real e concretamente que a arte da tatuagem acompanha o homem desde o seu surgimento.


 A Múmia mais antiga do mundo foi encontrada em 1991, na Itália e data de 5.300 anos antes de Cristo, conservou-se congelada em um bloco de gelo e tinha tatuagens acompanhando toda a espinha dorsal, além de uma cruz numa das coxas e desenhos tribais por toda a perna. A segunda múmia mais antiga do mundo é de uma princesa egípcia que apresentava um grande espiral desenhado na barriga, região do baixo ventre, que alguns antropólogos relacionaram a possíveis rituais de fertilidade. Outras múmias apresentaram tatuagens de conteúdo mágico ou médico. Em algumas delas, como na múmia de uma sacerdotisa de 2000 a.C havia linhas horizontais e paralelas à altura do estômago, possivelmente para proteção contra gravidez ou doenças. Múmias com os mesmos tipos de sinais foram encontradas no vale do rio Nilo. Segundo especialistas, as tatuagens em múmias do sexo feminino tinham um efeito cosmético, para realçar seus encantos.



 Em escritos antigos de Heródoto, chamado "O pai da história", há citações sobre a existência de um povo muito antigo no norte Europeu que tinha o costume de fazer desenhos definitivos pelo corpo, esses povos eram denominados Pictus, por esse mesmo costume. Os Pictus não se tatuavam por vaidade. Acreditavam que as tatuagens lhes davam poder e força e que os desenhos ficavam impressos na alma para que eles pudessem ser identificados após a morte por seus antepassados. Seus guerreiros recebiam as tatuagens depois de um ato de bravura. As linhas entrelaçadas dessas tatuagens, complicadíssimas de serem realizadas, serviam para distrair o inimigo, além de representarem a interconexão de todas as coisas sobre a terra. Os nativos da Polinésia, Filipinas, Indonésia e Nova Zelândia (maori), tatuavam-se em rituais complexos, sempre ligados à religião. Os maori se destacaram pela criatividade do Moko, tatuagem tradicional feita no rosto. Os povos Celtas e Vikings, os dinamarqueses, os normandos e os saxões, também desenvolveram os seus próprios estilos de tatuagem. A técnica pouco variava, mas os desenhos e motivos das pinturas eram singulares em cada cultura. No Taiti, segundo tradição local, a prática da tatuagem seria de origem divina. Durante o Po' (período obscuro) ela teria sido inventada pelos dois filhos do deus Távora Mata Mata Arahu (aquele que imprime com carvão de madeira) e Tu Ra'i Po' (aquele que reside no céu obscuro) que faziam parte do grupo de artesões. Eles inventaram a tatuagem e ornamentaram-se com um motivo denominado Tao Maro com o intuito de seduzir e tirar a virgindade de uma linda mulher, que era mantida prisioneira e vigiada por sua mãe; Hina Ere Ere Manua, movida pelo desejo de se deixar tatuar, consegue enganar a vigilância da mãe e é finalmente "tatuada". Estes ilustres antepassados são sempre invocados antes de se Iniciar uma tatuagem, a fim de que a tatuagem seja perfeita, que as feridas cicatrizem rapidamente e que os desenhos se revelem agradáveis à vista.

 Para os Samoanos, o ato de pintar o corpo marcava a passagem da infância para a maioridade. Enquanto não fosse marcado, o membro da tribo, por mais velho que fosse, não teria voz numa roda de adultos, nem teria permissão para tomar uma esposa para si. A tatuagem também funcionava como instrumento de ascensão social. Quanto mais tatuado fosse o Samoano, mais alto seria seu estatuto na tribo.  Na clandestinidade, sob o jugo do poder pagão, os primeiros cristãos se reconheciam por uma série de sinais tatuados, com destaque para a cruz. As letras IHS, abreviatura do nome Jesus, o peixe, letras gregas, etc. A Idade Média baniu a tatuagem da Europa, com o argumento de que era "coisa do demônio". Qualquer cicatriz, má formação ou desenho na pele não era visto com bons olhos. Essas pessoas eram perseguidas, aprisionadas e mortas em fogueiras pela inquisição a mando dos senhores feudais que queria exterminar possíveis "redentores do povo". No Japão feudal as tatuagens eram usadas como forma de punição, tornando-se sinônimo de criminalidade. Para o japonês, muito preocupado com sua posição na sociedade, ser tatuado era pior do que a morte. Mais tarde, na Era Tokugawa, época de intensa repressão, ser criminoso se tornou sinônimo de resistência, popularizando a tatuagem. Foi nessa época que surgiu a Yakuza, a máfia japonesa, cujos membros têm os corpos todos pintados em sinal de lealdade e sacrifício à organização e simbolizando a sua oposição ao regime. Os chineses acreditavam que as tatuagens desviavam o mal de quem as possuía e marcavam a pele com labirintos sinuosos para confundir os olhos do inimigo.

Na América, tanto as tribos indígenas dos Estados Unidos, quanto as civilizações Maias e Astecas, eram praticantes da tatuagem. Para os Índios Sioux, tatuar o corpo servia como uma expressão religiosa e mágica. Eles acreditavam que após a morte, uma divindade aguardava a chegada da alma e exigia ver as tatuagens do índio para lhe dar passagem ao paraíso. Um pouco mais próximo da linha do equador, Cortez se espantou com o fato dos Maias praticarem o culto dos deuses de pedra. Mais ainda, estes povos tinham o costume de gravar as imagens dos seus deuses na própria pele. Apesar dos europeus terem desenvolvido a tatuagem com os Celtas e os povos bárbaros, os conquistadores nunca tinham visto uma tatuagem antes, o que ajudou a qualificarem os Maias de "adoradores do diabo" e os massacrarem pelo seu ouro.

 A tatuagem foi introduzida no Ocidente no século XVIII, com as explorações que colocaram os europeus em contato com as culturas do Pacífico. Nessa época não existiam tatuadores profissionais, mas alguns amadores já estariam a bordo dos navios e em grandes portos. Na segunda metade do século XIX, as tatuagens viraram moda entre a realeza européia.
No final do  século XIX, a febre da tatuagem espalhou-se na Inglaterra como em nenhum outro  país da Europa. Graças à prática dos marinheiros ingleses em tatuarem-se. Vários segmentos da sociedade inglesa se tornaram adeptos da arte. Mas mesmo com a realeza tendo sido tatuada, a maioria das pessoas insistia em associar o ato de tatuar com uma propensão à criminalidade e marginalidade. Outros interpretavam a penetração da carne como uma tendência à homossexualidade.

A palavra tatuagem origina-se do inglês tattoo. O pai da palavra "tattoo" foi o capitão James Cook , que escreveu em seu diário a palavra "tattow", também conhecida como "tatau", uma onomatopéia do som feito durante a execução da tatuagem, em que se utilizavam ossos finos como agulhas, no qual batiam com uma espécie de martelinho de madeira para introduzir a tinta na pele. A partir de 1920 a tatuagem foi ficando mais  comercial, tornando-se mais popular entre americanos e europeus. Surgindo uma gama de tatuadores que eram artisticamente ambiciosos. Eles acharam muitos clientes nas décadas de 1950 e 1960. Durante muito tempo, nos Estados Unidos, a tatuagem esteve associada a classes sócio-econômicas mais baixas, aos militares, aos marinheiros, às prostitutas e aos criminosos.


 A tatuagem elétrica chegou ao Brasil em junho de 1959, através do dinamarquês "Knud Harld Likke Gregersen", que ficou conhecido como "Lucky Tattoo". Knud dizia que suas tatuagens davam sorte, e em menos de seis meses, Lucky já era notícia de TV.

A grande popularização da tatuagem nas Américas começou nos anos 70, quando a Califórnia foi o berço dos desenhos que reproduziram imagens de Marilyn Monroe, James Dean e Jimmy Hendrix. Nessa mesma época, os surfistas lançaram a moda de braços decorados com dragões e serpentes. Na década de 80, foi a vez dos tigres e das águias. Desde então, a tatuagem teve um aumento tão grande de popularidade que o número de estúdios subiu de cerca de 300 para mais de 4.000 nos últimos 20 anos, nos Estados Unidos. Hoje em dia, é difícil encontrar alguém que não tenha ao menos pensado em fazer uma tatuagem.

A chamada "arte na pele" cada vez mais perde o estigma marginal que costumava caracterizá-la e está nos corpos d e pessoas de várias idades e classes sociais. De uma simples marca tribal até gigantescos dragões, elas deixaram a clandestinidade para ganhar as ruas. As tattoos, hoje, no mundo da estética, são muito bem recebidas na recomposição de sobrancelhas, delineamento dos olhos e lábios, cobertura de manchas e cicatrizes. Lentamente, a tatuagem também passa a ser reconhecida como arte, graças as iniciativas dos tattoo clubs de todo o mundo que promovem exposições, competições entre os melhores trabalhos e realizam convenções para a atualização e modernização dos métodos de aplicação e de assepsia.


Mesmo com toda essa evolução, o fato é que, até hoje, muitas pessoas são discriminadas, como os povos antigos, por terem os seus corpos tatuados. Mas apesar de toda a propaganda contrária, mais e mais pessoas se dispõe a sacrificar suas peles para gravar figuras que cativam, excitam, polemizam e embelezam os seus corpos.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A Origem brasileira ( Alargador e Piercing )

"Piercing" - perfurações corporais entre índios do Brasil

"El piercing no es de ahora" -
Imagem Promocional
do Museo del Oro Precolombino,
de Costa Rica


Uma família da cidade jantando reunida: pai, mãe e um casal de filhos. A certa altura da refeição a menina adolescente diz aos pais que vai colocar um "piercing" na língua. O irmão mais novo aproveita e expressa o desejo de furar sua orelha para usar brinco, como a maioria dos garotos de sua escola.
Num passado recente esses pais teriam um acesso de fúria ao ouvir os filhos tocarem nesse assunto. Nem tanto hoje em dia. A prática do "piercing" - ou seja: a furação de partes do corpo para a colocação de adornos - é cada vez mais comum. Está relacionada, na sociedade não-indígena, à juventude e modernidade. Porém, como bem exposto no cartaz acima, do Museo del Oro Precolombino, o "piercing" é uma prática antiga. Há registros do uso de adornos nasais na região do Oriente Médio que datam de 4.000 anos atrás, e um homem mumificado encontrado na Áustria, que viveu a 5.000 anos atrás, apresentava perfurações na orelha.
Entre os grupos indígenas que vivem no Brasil essa prática de ornamentação do corpo é comum. Existem centenas de diferentes adornos usados em furos na orelha, no septo nasal e no lábio inferior. E conforme a história desses povos, tais adornos são utilizados desde os tempos míticos.
Esse boletim da Iandé mostra alguns desses "piercings indígenas". 


 Alargadores e Botoques entre os Índios Kayapó

Raoni Txukarramãe, foto de capa
do livro "Caiapó Metutire"
 
O botoque de madeira usado nos lábios é um tradicional adorno dos índios Kayapó, que vivem nas florestas de Mato Grosso e Pará.

Essa peça, chamada "akàkakô" pelos Kayapó, é utilizada somente pelos homens. É fabricada da madeira "picó". Faz-se nos bebês um pequeno furo embaixo do lábio inferior. Conforme a criança vai crescendo, esse furo vai sendo alargado. Atinge o ápice na idade adulta, quando o homem é "pai de muitos filhos". O botoque pleno está relacionado à importância da fala. Seu uso ajuda o homem na faculdade da oratória pública e nos cantos cerimoniais, que são a mais alta forma de expressão de um Kayapó.
Desde a década de 70, um importante líder Kayapó tornou-se bastante conhecido dos não-índios: o cacique Raoni Txukarramãe. Com sua férrea disposição na defesa do território e dos direitos indígenas, Raoni viajou pelo mundo sendo recebido por governantes, astros de rock e pelo Papa. Não se pode negar que seu botoque era algo impressionante. Marcava a figura de Raoni na memória. Acima está uma foto recente de Raoni (e seu botoque), que ilustra a capa de um livro sobre os índios Kayapó.
Da mesma forma que o botoque é usado para se falar melhor, os Kayapó acreditam que a capacidade de se ouvir melhor e "entender" a linguagem, é adquirida ao se fazer um buraco na orelha de alguém. Os bebês, de ambos os sexos, têm suas orelhas furadas e à medida que crescem o buraco é aumentado com alargadores de madeira, até atingir 2 a 3 centímetros de diâmetro. 



Alargadores de orelha de adultos e de criança
dos índios Kayapó, esculpidos em madeira.
À esquerda, uma caneta esferográfica
como referência do tamanho das peças

 Os índios Suyá, do norte do Mato Grosso, usam adornos semelhantes aos Kayapó. Os Suyá também associam esses alargadores à importância cultural da audição e da fala.

Para saber mais:
- Arte Indígena, Linguagem Visual; de Berta G. Ribeiro
- Caiapó Metutire, de Paulo Pinajé e Vito D'Alessio
- Kaiapó Amazonie: Plumes et Peintures Corporelles; de Gustaaf Verswijver 


A origem da Perfuração de Orelhas, segundo os índios Waurá 

Os índios Waurá, do Parque do Xingu - Mato Grosso, contam a história de Kamukuaká, um belo e poderoso espírito que surgiu antes da criação do mundo e dos homens.
Kamukuaká não tem pai nem mãe e por isso não tem umbigo. Certo dia ele decidiu furar suas orelhas e promoveu uma grande festa em sua aldeia.
O Sol, que morava num buraco nas pedras do rio Batovi, tinha inveja de Kamukuaká e decidiu matá-lo. Durante a festa, o Sol atirou uma flecha na cabeça de Kamukuaká, que desviou o rosto. A flecha apenas furou uma de suas orelhas.
O Sol atirou outra flecha, mas o espírito desviou-se novamente e só a outra orelha foi furada. Os outros jovens que estavam na aldeia também furaram as próprias orelhas, e a festa acabou sem que o Sol fizesse mal a Kamukuaká.
Ainda hoje, os jovens garotos Waurá participam de um rito de passagem onde têm suas orelhas furadas.

Para saber mais:
- texto: "Segunda expediçao a Kamukuaká"; escrito por Aléia Metre e publicado na revista Brasil Indígena de jul/ago-2002


Os Índios Botocudos  

Quando os primeiros europeus chegaram ao Brasil, encontraram alguns grupos indígenas que destacavam-se pelo uso de grandes discos de madeira nos lábios e nas orelhas. Esses índios viviam em uma área que ia do sul da Bahia ao sul do Espírito Santo. Foram chamados inicialmente de "Aimorés". Depois de algum tempo, devido ao uso de seus adornos, foram rebatizados pelos portugueses de "Botocudos". 


à esquerda: índia botocudo fotografada em 1876
à direita: "Capitão June e sua esposa, rio Jequitinhonha" -
gravura de M.Wied-Neuwied, de 1815,
registrando família de índios Botocudos 



Os Botocudos não constituiam um grupo indígena único. Eram índios de diferentes etnias com algumas características em comum: como o uso dos botoques e o semi-nomadismo. Sobre o genérico nome "botocudo" eram conhecidos os índios das etnias Pojixá, Jiporok, Naknenuk, Nakrehé, Etwet, Krenak, entre outras... Os botocudos foram caçados de forma vil e cruel pelos portugueses e os únicos sobreviventes são os Krenak, que vivem hoje no norte de Minas Gerais e não usam mais os antigos botoques. Os não-índios desencorajavam o uso dos botoques à medida que iam conquistando esses povos.
Os ornamentos dos Botocudos eram feitos da madeira extraída da árvore "Barriguda" (Bombax ventriculosa). Depois de cortada, a madeira era desidratada no fogo o que a tornava leve e branca. Era comum que o botoque fosse pintado com riscos geométricos. Somente os homens esculpiam os botoques, mesmo aqueles usados pelas mulheres. As orelhas das crianças eram furadas aos 7 anos de idade mais ou menos e os lábios um pouco mais tarde. Os botoques implantados inicialmente eram pequenos e aumentavam de tamanho gradativamente.
Os Botocudos contavam que esses adornos eram uma indicação de seu herói-cultural, chamado Marét-Khamaknian. Ele vivia no céu, era muito alto, tinha cabelos vermelhos e um enorme pênis. Foi ele quem ensinou toda a cultura aos Botocudos. O herói atendia aos pedidos da comunidade mas também enviava castigos na forma de tempestades e na morte, provocada por uma flecha invisível que atingia o coração dos índios. Marét-Khamaknian vivia com uma mulher chamada Marét-Jikki (a velha Jikki), mas o casal não se dava muito bem e suas brigas eram a explicação para as diferentes fases da lua.
O Governo do Brasil promoveu uma guerra contra os Botocudos. Na virada do século XVIII para o século XIX, foram revogadas as leis da época que concediam alguma proteção aos índios e seguiu-se um massacre contra eles para ocupação da área onde viviam. A ferocidade do governo brasileiro gerou protestos na Europa, porém no início do século XX restaram poucos Botocudos vivos. Os índios Krenak foram os únicos que sobreviveram como etnia e a eles juntaram-se os Botocudos de outros grupos que sobreviveram à fome, doença e à guerra.
Em 1955, descobriu-se minério na área onde estavam os Krenak e eles foram novamente expulsos da terra onde viviam.
Na década de 80, Aílton Krenak, neto dos sobreviventes Botocudos, foi personagem de uma comovente cena quando discursou no Congresso Nacional em defesa de direitos indígenas que acabaram incluídos na Constituição. Enquanto falava na tribuna, usando terno e gravata obrigatórios no Congresso, foi pintando seu rosto com tinta preta, como faziam seus antepassados.

Para saber mais:
- O lugar onde a terra descansa, de Ailton Krenak
- texto: "Os Botocudos e sua trajetória histórica"; de Maria Hilda B. Paraíso - incluído no livro "História dos Índios no Brasil", organizado por Manuela Carneiro da Cunha



 Adornos Faciais Indígenas

A seguir estão alguns adornos faciais utilizados por índios do Brasil:

no alto: brincos de madrepérola,
ao meio: palitos de madeira usados nas bochechas,
abaixo: adorno nasal esculpido em concha de caramujo;
todos usados por índios Matis, do Amazonas


alargadores de orelha, feitos em madeira,
dos índios Rikbaktsa, do Mato Grosso


 no alto: furador de septo nasal, feito em madeira,
dos índios Pareci (Mato Grosso)
abaixo: furador de septo nasal, lóbulos das orelhas e
lábio inferior, feito com penas e cabelos humanos,
dos índios Bororo (Mato Grosso)



 adorno nasal (narigueira),
dos índios Nambikwara, de Rondônia





adornos labiais (labretes/tembetás) diversos:
sentido horário a partir do canto superior direito:
dos índios Wai Wai, do Pará, feito com miçangas;
dos índios Bororo, de Mato Grosso, esculpido em madrepérola
dos índios Kaapor, do Maranhão, feito com penas;
dos índios Parakanã, do pará, esculpido em pedra